quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Austrália ( Baz Luhrmman, 2008)



Sempre que vou ao cinema ver algum filme, procuro ir com o espírito desarmado e busco entrar na proposta do mesmo. Não sei se isso é algo bom ou ruim, mas é dessa forma que sempre proucuro ir. Austrália é recheado de clichês? Com certeza. Porém isso não é algo que chegue a me incomodar, por dois motivos: Primeiro, porque já sabia o que me esperava, e segundo porque o Moulin Rouge, um dos meus filmes preferidos, é puro clichê, e nem por isso perde sua excelência. Sempre fui daqueles que não tem problemas com esses tão temidos vícios, contanto que eles sejam bem conduzidos, são válidos e perdoáveis.

Entretanto, clichês passam longe de ser o problema de Austrália, que está sim em seu roteiro, mas não por esse motivo, e sim pela evidente falta de coesão do mesmo. É visível ( e isso geralmente ocorre em 90% desses casos) que o roteiro é prejudicado pelo fato de ter sido escrito a 8 mãos (nunca gostei disso), é gente demais para construir idéias e inevitavelmente destoar das outras. O roteiro do filme passa a impressão de que cada um dos 4 roteiristas se isolaram para elaborar os seus textos, e depois de um certo tempo se reencontraram pra unir as partes, tentando criar algumas ligaçõeszinhas entre as mesmas, sem muito se preocupar com a linha que anteriormente o texto vinha seguindo. Um quis comédia, outro quis drama, ai o outro botou ação, outro viu que não podia faltar a guerra, já o outro não esqueceu da crítica social, ai tudo virou uma salada sem coesão. É óbvio que eles não devem ter feito cada um sua parte, eles devem ter sentado e desenvolvido o texto em um todo, porém é essa a perceptível impressão que o filme nos deixa.

Outra coisa que me incomodou no roteiro são algumas mortes desnecessárias, que parecem está ali apenas para sua conveniência, apenas para criar situações que talvez emocionem ou causem impacto, como a morte do contador da Lady Ashley pelo estouro da boiada; e a morte do tio do Nullah, essa até que um pouco até aceitável, mas ainda não via necessidade. Sem acrescentar a brusca morte do Barão, que do nada é arremessado aos crocodilo, sem importância alguma sumindo da história.

Mas o roteiro não deixa de ter seus pontos positivos, como a ótima forma como é trabalhado o preconceito racial vigente na época; a forma como as referências aos clássicos são encaixadas, principalmente o maravilhoso uso do Magico de Oz e sua encantadora Somewhere over de Raibon. Ou tro ponto a favor e que mesmo sem coesão, o texto até que consegue ser enxuto, não contendo uma penca de cenas desnecessárias, apenas para encher lingüiça. Todas as cenas, ainda que por vezes desconectadas uma das outras, tem sua importância dentro da história.

E as categorias técnicas que foram esnobadas no Oscar e principalmente nos sindicatos foi um despaltério. Na técnicas como já era de se esperar, Austrália é soberbo, tem uma direção de arte impressionate; Uma mixagem e edição de som estupenda, onde tudo está bem elaborado, organizado e encaixado. Som da boiada, dos chicotes, dos cavalos, da tempestade no desertos, dos aviões, bombas, dos ambientes cheios de pessoas. Tudo em perfeita ordem. Agora não teve absurdo maior que a exclusão da Mandy Walker em fotografia, que é incomentável de tão soberba que é. Tem cenas que te causam puro êxtase visual, destaque para uma cena logo no início em que o Nullah sai da água com um cavalo, assim como toda a visão do vasto e belíssimo deserto Australiano. É de longe uma das melhores fotografias do ano, só empata com a de Cegueira, que aliáis foi outro trabalho também acometido pela ignorância momentânea dos sindicatos.
Só o que não é de se fazer tanto barulho assim são os efeitos visuais, que são ótimos, porém não tem tanta força para fazer frente aos fortes concorrentes do ano.
A bela canção “By the Boab Tree” também merecia ter recebido mais atenção.

O que dizer do Baz e sua direção? Eu sinceramente gostei, é verdade que fica muitíssimo longe de sua excelência obtida anteriormente em Moulin, porém continua lá em suas cenas aquele seu espírito visionário e sua ousadia que o consagrou e criou a sua importante identidade visual, algo que em agrada muito em um diretor. Ele não se mostra preguiçoso em momento algum, e sempre tenta extrair o melhor de suas cenas, para torná-las excelentemente bem realizadas. Em Austrália ele cria ângulos magníficos, usando e abusando de eficientes travellings , closes, tomadas aéreas, camerâ tremida. Tem uma cena em especial em que ele une esses recursos, que é belíssima, que é a cena em que o Neil Fletcher (David Wenham) corre para capturar o Nullah, mas o mesmo corre para fora da fazenda, e todos seguem atrás dele. Nessa cena uma câmera tremida vai acompanhando de forma aberta os movimentos de todos em cena, intercalando com as tomadas aéreas, e cria algo muitíssimo bem realizado. Coisas de um diretor que não se acomoda no senso comum.
Baz sabe muito bem dirigir um belo romance; seus beijos, olhares, sentimentos, tudo isso é muito bem feito e capturado pelas suas lentes.

As atuações são de um todo corretas, Hugh tem o porte e truculência que seu personagem lhe pede, o que lhe permite se encaixar perfeitamente no papel, o ele atua de forma tranquila conform o exigido.
Nicole minha musa mais uma vez exercita seu habitual talento, contando outra vez com a generosidade do Baz, que lhe permite mostrar mais uma vez o seu excelente time cômico, e que em um simples piscar de olhos mostra sua excepcional carga dramática que já lhe rendeu vários prêmios e elogios em sua já consagrada carreira. Kidman aqui em Austrália mostra o porquê de meu amor por ela, que não vem simplesmente por ela ser uma atriz linda ( aqui muitíssimo linda, digasse de passagem), nem por ser inteligente, etc. Aqui ela reforça meu amor por mostrar mais uma vez seu lado que me encantou; que é seu destemido medo de encarar os projetos e seus desafios, e se dedicar de forma ávida na composição de suas personagem, trabalhando seus gestos, caminhado, forma de falar, etc.
Lady Sara Ashley permite a Nicole fazer tudo aquilo que adora, e bem sabe fazer. Outra ótima personagem para o seu currículo.
Agora destaque maior vai para o jovem Brandon Wallters, que reforça aquela frase de que talento não se aprende, quem tem já nasce com ele. Brandon é carismático, doce, encantador, apaixonante. Em sua primeira atuação mostra desempenho de gente grande.

Austrália é um filme que ficou muito longe de ser o lixo como qual a crítica o classificou, porém ficou muitíssimo longe de ser o Clássico que se esperava. Padeceu dos piores dos pecados de um filme, seu insucesso no roteiro, e infelizmente teve que pagar pelo mesmo. Uma pena.

Serve como um ótimo romance, daqueles de suspirar, torcer, chorar (sim chorar, pelo menos no meu caso). Daqueles filmes de assistir com a família, namorada, com quem gosta, etc. Um entretenimento de primeira, mas que nada acrescenta a uma lista de filmes inesquecíveis da sétima arte.
O Filme veio sendo esnobado nessa temporada de prêmios nas categorias principais da premiações de forma justíssima, porque apesar de ainda não ter visto 80% dos filmes da temporada, tenho certeza que no mínimo 5 deles devem ser muito superiores a Austrália, até porque se não houver, assim como o ano passado teremos um ano histórico, porém só que dessa vez no pior sentido da palavra.

Como Australiano ficaria eternamente grato e satisfeito com a forma que o meu País e sua cultura foram mostrados.

Como admirador da Nicole Kidman e de sua carreira, fico extremamente feliz por vê-la mantendo sua ótima forma, e mais linda que nunca. Sem dúvidas algumas o filme já tem seu lugar reservado na prateleira da minha coleção de filmes dela.
Porém, como cinéfilo e pseudo-comentarista, fico com o inevitável gosto que o filme tinha tudo para poder ter sido inesquecível, porém infelizmente não foi.

Fica com um generoso 7.0 de minha parte.

3 comentários:

  1. Paulo, gostei bastante da sua crítica. Vou ser sincero, quando você falou aquela brincadeira, eu também apostei no Obra Prima, e estava com medo. Mas você foi coerente, elogiou o que merecia e criticou negativamente o que também merecia. Fiquei feliz.

    E creio que de maneiras diferentes, em momentos diferentes, enfim, fomos acometidos por uma paixão sem tamanho por Moulin Rouge... Austrália sofreu muito por isso. Até vê-lo eu tinha a sensação que seria melhor ainda, e o próximo do Baz melhor ainda e etc. Depois do filme, vi que Moulin Rouge é uma obra incontestável, mas que não me garante que o diretor me dará sempre presentes como este.

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  2. Pauloooooooo vou adicionar sue blog no cinefilando.
    Eu sou uma que defendo Australia e penso exatamente como vc do filme.
    Eu tbm sabia o que me esperava, e gostei do filme e achei sua nota perfeita.
    bjokas,
    vivi

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  3. Ae Paulo!
    Agora que vi que o blog é novo e tal, já ia falar que vc nunca havia comentado sobre ele. Muito legal! E, como sempre, expondo muito bem sua opinião. Gostei da sua crítica! \o/

    Apesar de a diferença da nossa nota ser gritante rs, é muito do que eu penso também a sua crítica. E mesmo num filme ruim, vc saltando elogios para a Nicole hahaha, é demais! Como eu já disse, ela está bem, mas o roteiro boicota a coitada na sua trajetória e ela muda da água para o vinho repentinamente. Ela dá conta do recado pela atriz talentosa que é, mas o negócio fica forçado.

    O trabalho técnico realmente é incrível. Não assisti aos demais filmes dessa temporada para fazer comparações, mas sua esnobada nas premiações: 1) é preconceito porque o filme é medíocre ou 2) os outros indicados tem fotografias e um design de tirar o fôlego (ainda mais!). Eu acredito na 1º opção, porque sabe como é essas premiações, não é mesmo? Direção boa, mas como tu disse, sem aquela "pegada" de "Moulin Rouge!", apesar de boas tomadas.

    E chegamos ao roteiro. São 4 roteiristas, mas parece tem apenas 1 neurêonio, isso basta. Nem vou mais me extender. Só digo que é uma tristeza desperdiçar um bom elenco, uma ótima estética visual e um diretor que sabe aproveitar seu espaço, com uma história tão chula e vazia como essa. E sério, se o filme fosse ao menos "gostoso de assistir", tudo bem. Mas eu achei o negócio massante, torturante mesmo rs. Foi mal!

    Enfim, parabéns pelo blog!
    sempre que postar uma crítica, dê um toque que dou meu parecer ;)

    Tom.

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